Com mais de 10 milhões de pessoas surdas no país, o desafio da inclusão vai além do acesso à educação, exigindo políticas públicas robustas e a valorização da diversidade linguística e cultural |
No dia 26 de setembro, celebra-se o Dia Nacional do Surdo, uma data que busca conscientizar a sociedade sobre os direitos e os desafios enfrentados pela comunidade surda. No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência auditiva, de acordo com o Censo do IBGE de 2010. Desse total, aproximadamente 2,7 milhões apresentam surdez severa. Para garantir pleno acesso à cidadania, é inevitável passar pela educação. Ações de inclusão devem respeitar tanto a diversidade comunicacional quanto a identidade cultural da comunidade surda. Educação bilíngue: avanços e desafios Em 2021, o Brasil deu um passo importante ao incluir a educação bilíngue para surdos como modalidade específica na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua e o português escrito como segunda língua. No entanto, segundo Sabine Vergamini, Diretora do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, o acesso a essa modalidade ainda é limitado, especialmente fora dos grandes centros urbanos. “Na cidade de São Paulo, conseguimos ter escolas bilíngues, mas em cidades menores, a realidade é muito diferente. Muitas vezes, os alunos são incluídos em turmas de ouvintes com a ajuda de intérpretes de língua de sinais. Mas isso só é efetivo se o aluno já tiver uma base sólida em Libras, o que nem sempre é o caso”, alerta. No Colégio Rio Branco, a inclusão vai além de colocar alunos surdos e ouvintes na mesma sala de aula. “Temos intérpretes em todas as turmas com alunos surdos, e nas aulas de português, esses alunos têm uma abordagem específica, com um professor dedicado ao ensino deste componente curricular como segunda língua. Tudo é pensado para garantir o máximo desenvolvimento possível de cada estudante”, diz Sabine. Para Nathan Ferreira Gomes, que estuda na 1ª série do Ensino Médio do Colégio Rio Branco desde 2016, a abordagem inclusiva e bilíngue fez toda a diferença no seu desenvolvimento. “Antes de entrar no Centro de Educação para Surdos, eu estava em uma escola onde não havia intérprete de Libras. Eu copiava o que os outros alunos faziam, mas não entendia nada, isso me deixava muito frustrado”, relembra Nathan. “No Centro de Educação para Surdos, eu me tornei fluente na língua de sinais e consegui me comunicar melhor com meus colegas ouvintes, tanto em Libras quanto em português escrito. A inclusão aqui é real”, ressalta. A importância da família no desenvolvimento de crianças surdas “A maioria das crianças surdas nasce em famílias ouvintes e é crucial que esses pais aprendam a estimular a criança adequadamente, usando o canal visual como principal via de informação”, explica a especialista. “Infelizmente, o histórico da educação de surdos no Brasil tem sido focado em suas dificuldades, como a audição e a fala, ao invés de valorizar suas potencialidades, como a comunicação visual”. Educação inclusiva: um caminho para a transformação social O impacto da educação inclusiva não se restringe apenas aos alunos surdos, como aponta Sabine. “Alunos ouvintes que convivem com colegas surdos aprendem desde cedo a lidar com a diversidade, o que se torna um diferencial na vida em sociedade e no mercado de trabalho”. Essa experiência pode moldar profissionais mais sensíveis às questões de acessibilidade, como foi o caso de alunos do Colégio Rio Branco que seguiram carreiras em teatro, jornalismo e publicidade, sempre com um olhar atento à inclusão. Nesse sentido, ampliando a oportunidade aos alunos, a escola promove Oficina de Libras, como atividade extracurricular para alunos ouvintes desde o 3º ano do Ensino Fundamental. Nesta data importante, é fundamental refletir não apenas sobre as conquistas, mas também sobre os desafios ainda existentes. A inclusão verdadeira só será alcançada com o compromisso contínuo de toda a sociedade em respeitar e valorizar a diversidade da comunidade surda. Ouvir, aprender e agir são passos essenciais para uma sociedade mais justa e inclusiva. Colégio Rio Branco (www.crb.g12.br) – O Colégio Rio Branco é uma das mais reconhecidas instituições de ensino do Brasil, com unidades de Educação Infantil ao Ensino Médio em São Paulo (Higienópolis) e Cotia (Granja Vianna). O colégio é associado à UNESCO e orienta seu projeto pedagógico na aquisição de conhecimentos e competências permeadas pelo diálogo, respeito à diversidade, atitude crítica e edificada em princípios éticos e de solidariedade. Centro de Educação para Surdos Rio Branco (www.ces.org.br) – Mantido pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, o CES Rio Branco oferece atendimento a crianças e jovens surdos, tendo como principal objetivo, sua inclusão na sociedade. Conta com uma equipe composta por profissionais surdos e ouvintes altamente qualificados e fluentes em Libras (Língua Brasileira de Sinais), adotada como a primeira língua, e a Língua Portuguesa, em modalidade escrita, como a segunda. A instituição é uma referência nacional e internacional em educação e inclusão de surdos. Mira Comunicação Amanda Barbosa – amanda.barbosa@miracomunica.com.brRenata Tomoyose– renata.tomoyose@miracomunica.com.br |
- imprensahoje
- 24 de setembro de 2024
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